terça-feira, 23 de junho de 2015

Um país de bebês desamparados

Estou traduzindo uma obra essencial* para a compreensão do fenômeno moderno dos estados-babás, esses monstros gigantescos que se intrometem cada vez mais na vida das pessoas, tentando tirar toda a sua liberdade e autonomia, regulando coisas simples e cotidianas que nem mesmo uma criança precisaria que fossem reguladas. O exemplo mais recente disso foi a aprovação, na assembléia legislativa do Espírito Santo, de uma lei que proíbe os restaurantes de deixar saleiros sobre as mesas, sob a alegação tácita de quenanny-state as pessoas não são capazes de decidir por si mesmas se devem ou não comer alguma coisa, dado que esta coisa tenha algum potencial de lhes fazer mal. A lei começa a valer em julho, e prevê multa de até mil e trezentos reais, de acordo com reportagem do G1.
Mas por que assistimos a esse tipo de intervenção em nossas vidas? Por que nossos políticos nos “presenteiam” com leis absurdas como essa? Bom, a resposta é longa o suficiente para demandar um livro inteiro, que em breve estará disponível ao público brasileiro. Mas, para se ter uma ideia do tipo de fenômeno que se está falando aqui, deixo um trecho de um dos capítulos:


Em qualquer estado democrático, aquilo que é institucionalizado é de fato uma expressão do que seu povo valoriza mais profundamente, tanto sábia como tolamente. De maneira mais geral, o que é institucionalizado nos arranjos de convivência de uma sociedade democrática depende de quais anseios e temores o eleitorado acredita que devem ser endereçados pelo estado.
Se os ideais do eleitorado são a liberdade individual, a auto-responsabilidade, a auto-atualização e a cooperação voluntária, e se os temores são aqueles relacionados às invasões da pessoa e propriedade de alguém ou às violações de contratos, então as regras da sociedade protegerão os direitos à propriedade privada e o desempenho de acordos executáveis.
Se, por outro lado, o povo anseia por ilusões de igualitarismo, segurança material garantida e regulação ampla das pessoas, deseja a indulgência e teme a incerteza e sua própria inveja e inadequações num nível suficiente, então ele rejeitará o ideal da liberdade. Esse povo criará, em vez disso, o estado gerencial moderno, e lhe concederá poder para regular, compensar, taxar e redistribuir sob a desculpa da justiça social.
Fica fácil entender o porquê de termos os políticos que temos, a constituição que temos, as leis que temos e os males sociais que temos: nosso povo anseia por ilusões de igualitarismo e segurança material. Nosso povo gosta de ser tratado como bebê, de receber comida da mamãe-estado, de ter alguém onipotente cuidando de si. Nosso povo adora ouvir a mentira mais contada nos palanques eleitorais, e aprimorada à perfeição pelo ex-presidente e sempre cachaceiro Lula: eu vou cuidar de vocês.
Numa época da história mundial em que até mesmo a nação que foi criada com os ideais mais fortes de liberdade, os Estados Unidos da América, se rende a promessas assistencialistas e troca suas liberdades por food stamps**, fica difícil imaginar que um país como o Brasil, com uma longuíssima tradição de infantilização do povo, conseguirá transformar essa mentalidade e virar o jogo em favor da responsabilidade individual, da liberdade e do respeito à soberania do indivíduo. Pessimismo? Não. Apenas realismo duro e difícil de engolir. Afinal, é um mundo onde Lulas e Obamas ocupam o poder.

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