sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Fé, política e cidadania

Fé e política O que isso tem a ver?!

Em outubro próximo, eleitores do Brasil inteiro irão
mais uma vez às urnas para eleger prefeitos e vereadores.
A vontade popular deve ser respeitada, mas a escolha consciente deve levar em consideração o futuro de
todos nos próximos anos.

Muitos têm aversão à palavra. “É coisa chata”, dizem
certas pessoas que se negam a discutir o assunto. “Política e religião não se discute” já se tornou um jargão.
No Brasil, é comum associar a política à “politicagem”
instaurada no país, colocando-o como destaque entre as
nações com alto índice de corrupção, e conformar-se com
essa realidade.

Em meio a essa conjuntura, a Igreja diz que a política deve ser discutida e mostra-a como “uma forma sublime do exercício da caridade”. Inaugurando a série de reportagens que o VOZ DE NAZARÉ publicará em decorrência das eleições para prefeito e vereador no mês de outubro a equipe do jornal foi buscar saber, esta semana, qual é a intensidade da relação entre fé e política. Mas primeiramente fez o seguinte questionamento - qual o sentido da palavra política?!  

O significado do termo “política” vai muito além do que se pode imaginar. “Todos nós somos políticos porque de uma forma ou de outra estreitamos relações sociais que envolvem poder.

Eis, portanto, o sentido da palavra política”, explica o jornalista Rogério Santos. “A verdadeira política é aquela feita para promover o bem e o acesso de todos, acabando com as desigualdades”, esclarece o autor do livro “Pobreza Política”, Pedro Demo. Segundo ele, as desigualdades seriam um mal socialmente criado, necessário para manter um sistema no qual houvesse a nítida diferença entre ricos e pobres.

O autor também ressalta que em muitos casos foi conveniente aos Estados preservarem uma “política” paternalista, resolvendo os problemas do pobre de forma imediatista, sem oferecer-lhe condições de permanecer sem tal problema posteriormente. Ou seja, mantém-se a condição do pobre que precisa sempre do auxílio do rico revestido de figura paternalista.

Pobreza política

Na opinião de Pedro Demo, haveria duas formas
de pobreza: a pobreza material e a pobreza política.
A fim de tentar acabar com essas duas formas de pobreza, a Igreja e os movimentos sociais precisaram
lutar, ao longo dos anos, para que muitos direitos fossem
garantidos. O autor chama de “pobres políticos” àqueles que não promovem uma política voltada para “o todo”.
“Pobre é aquele que oprime os outros”, diz. Já o verdadeiro homem político, segundo ele, não se ilude
acerca das suas limitações e se organiza para preservar os seus direitos. Essa forma de participação caracteriza o verdadeiro homem político, pois é um exemplo de  vitória ante as “políticas de opressão”.

“A política social combate a pobreza, enquanto que, a política de interesse procura atender a quem está mais bem atendido. Hoje, a própria tecnologia está a serviço desse sistema desigual e procura alimentá-lo, mas, o verdadeiro homem político, irá, de alguma forma, procurar contestar isso”, explica Pedro Demo. Segundo o Arcebispo Emérito da Paraíba (PB) e ex-vice-presidente da CNBB, Dom Marcelo Pinto Carvalheira, é preciso resgatar o interesse e o encantamento do povo pela boa política. “Resgatar a esperança através de políticos comprometidos. Assim têm refletido os nossos grupos de ‘Fé e Política’, em conjunto com associações de bairro e movimentos sociais”, disse.

Para esse religioso, o comportamento e a Palavra de Jesus, em suas linhas essenciais, constituem elemento normativo para a existência cristã e, por conseguinte, para o nosso compromisso político. “Ele vivia no regime teocrático do judaísmo, regime de absoluta unidade entre a religião e o Estado. O Sumo Sacerdote era a maior autoridade religiosa e também, com o Sinédrio, a suprema autoridade do Estado. Essa situação era respeitada pelo Procurador Romano”, explica. Segundo Dom Marcelo, pela sua referência ao bem comum dos homens que vivem em comunidade, a práxis política não tem apenas dimensões morais, mas ela mesma é práxis moral, embora nem todas as práxis morais sejam práxis políticas.

A chamada “laicidade” para a doutrina católica é entendida como autonomia dos campos civil e político em relação aos setores religiosos eclesiásticos, mas não em relação ao campo moral, pois ela está voltada essencialmente para o bem comum, que implica em busca da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade, do respeito à vida humana. “Pontos comuns entre religião e política não impedem sua distinção e autonomia recíproca. Essa laicidade, portanto, não significa ateísmo, nem agnosticismo do Estado. Na verdade, a laicidade já é um valor adquirido pela Igreja e pertence ao patrimônio da civilização”, explica, com base na Nota Doutrinal da Congregação da Doutrina da Fé de fevereiro de 2003.

Centro Nacional Fé e Política

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fundou em 2005 o  Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara. O objetivo foi colaborar para a formação de leigos inseridos no mundo da política. De acordo com o ex-presidente da CNBB, Cardeal Geraldo Majella Agnelo, “o centro pretende contribuir para o exercício da política, que é uma forma sublime do exercício da caridade”. Para isso, o centro oferece cursos, organiza seminários, encontros e simpósios, além de estabelecer uma rede de assessores e realizar publicações. A ideia de criar um centro nacional buscou atender ao chamado do Papa João Paulo II que, na Exortação Christifidelis Laici, após o Sínodo sobre os Leigos, pediu que a formação dos leigos e leigas fosse prioridade nas igrejas locais.

Voto e cidadania

O primeiro turno das eleições municipais de 2012 será no dia 7 de outubro e o segundo, caso haja, ocorrerá no dia 28 do mesmo mês. O calendário foi aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ficou definido que os partidos terão até 7 de outubro deste ano para obter registro no TSE se quiserem participar das próximas eleições. O limite é o mesmo para os candidatos. Em outubro milhares de brasileiros irão exercer sua cidadania votando nos(as) candidatos(as) que consideram dignos de assumirem os postos de prefeito(a) e vereador(a) dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros. Mas o que é cidadania?!
O significado da palavra foi uma dúvida da dona de casa Lindalva Santos durante anos. Apesar de ter ouvido falar várias vezes de cidadania, apenas hoje, com seus 32 anos, soube o que realmente significa: o conjunto de direitos e deveres aos quais um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive.

Assim como Lindalva, muitos brasileiros não sabem que ser cidadão é ter consciência de que é sujeito de direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, entre outros direitos civis, políticos e sociais. Mas esse é um dos lados da moeda. Segundo o advogado Marcos Silvio de Santana, cidadania pressupõe também deveres. “O cidadão tem de ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição”.

Fonte: Fundação Nazaré

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