Entrevista no Roda Viva
Entrevista ao site da Livraria Saraiva
Por Carolina Cunha - Livraria Saraiva
Quem folheia o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia logo recebe um aviso: “Este livro é a confissão de um pecador irônico a respeito de uma mentira moral: o politicamente correto”.
É bom que se avise mesmo. O leitor mais sensível pode ter reações adversas que envolvem sintomas como úlcera nervosa, alívio ou mesmo gargalhadas em momentos que ninguém deveria achar graça.
Lançado em abril, o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia é o terceiro volume da coleção 'Politicamente Incorreto', da editora LeYa.
Neste livro, o filósofo Luiz Felipe Pondé reflete sobre a história do politicamente correto através do pensamento de grandes cabeças, como Nietzsche, Darwin, Rousseau, Kant, Nelson Rodrigues, entre outros. Assuntos como política, religião, preconceito e felicidade são colocados à mesa para um papo de boteco com filósofos.
Sem medo de ser desagradável, o autor atropela com uma ironia afiada um comportamento que veio para ficar. Dos ecologistas de butique aos democratas, ninguém escapa de suas espinafradas.
Para o filósofo, a vida é basicamente infeliz, as mulheres gostam mesmo é de homem que tem dinheiro, o aeroporto se tornou um churrasco na laje e o mundo corre o risco de se tornar brega.
Autor do best-seller Contra um Mundo Melhor, Luiz Felipe Pondé é filósofo, professor universitário e colunista do jornal Folha de S. Paulo.
Em entrevista ao SaraivaConteúdo, Pondé comenta algumas polêmicas e desabafa sobre como o comportamento politicamente incorreto lhe dá arrepios. Quem nunca caiu neste pecado que atire a primeira pedra.
Por que você considera o politicamente correto uma praga?
Pondé. Este livro é um ensaio que usa a ironia. Uso a expressão “praga” quando me refiro a pessoas com medo de discutir determinadas coisas. Hoje, produzir uma reflexão pode se transformar num risco. Todo mundo tem medo de falar. O politicamente correto é quando se percebe que, atrás de uma argumentação, existe uma intensa moral escondida, que acaba se transformando numa censura de pensamento.
Você falou que o filósofo Rousseau é o pai do politicamente correto e que seu pensamento se alinha mais ao de Hobbes. Você acha o Rousseau um chato?
Pondé. Neste livro, apresento o Rousseau como uma espécie de ancestral do politicamente correto. Ele produz uma filosofia meio aguada, que diz que o ser humano é bonito, maravilhoso e tem natureza pura. Eu digo que prefiro o Hobbes, porque ele tem uma natureza humana mais dramática.
A sua visão do discurso feminista é a de um crítico mordaz. Você não acha que simplificou um pouco essa bandeira?
Pondé. A maioria dos leitores que falam comigo são mulheres. Eu não me refiro às formas óbvias de repressão feminina. Dizer que não existe sofrimento é falso. Mas acho que a relação entre homem e mulher tem dificuldades hoje que talvez não tivesse no passado. Esse discurso politicamente correto não quer mostrar as dificuldades porque acha que discuti-las é você ser machista. Por exemplo, se você faz uma conversa franca sobre esse assunto, vai ficar muito claro que as meninas não querem homens fracos e inseguros. A mulher continua querendo um parceiro companheiro, sólido e maduro.
Você coloca o dedo na ferida e critica o discurso que se refere aos negros, índios e gays como “a minoria”. Qual é o cuidado que as pessoas têm que ter com isso?
Pondé. Acho complicado fazer piadas de mau gosto. O que critico é a ideia de vitimização. Temos que ensinar às crianças que as pessoas são iguais, mas diferentes. Em nenhum momento eu me refiro que elas são melhores do que outras.
Fonte: Livraria Saraiva
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