Presidente da CNBB fala sobre Reforma Política, Sínodo dos Bispos, reforma da cúria romana e outros temas
São Paulo, 04 de Março de 2015 (Zenit.org) Prof. Hermes Rodrigues Nery
Na segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015, às 10:30, estivemos, com Flávia Camargo, na residência do Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Presidente também do Sínodo dos Bispos, a realizar-se em outubro deste ano, no Vaticano. Dois temas foram objeto de atenção especial na audiência: 1º) a Reforma Política e 2º) o Sínodo dos Bispos. Inicialmente, queríamos já gravar a conversa, mas Dom Damasceno preferiu primeiro que apresentássemos os nossos questionamentos e discorrêssemos sobre o assunto, ao qual ele faria suas colocações, para, em seguida, fazer uma súmula do que havia sido conversado, em forma de uma breve entrevista. Foi o que ocorreu. Ficamos por quase duas horas tratando dos temas acima mencionados, e somente, ao final, em quase trinta minutos, ele expôs sua posição sobre os temas, em entrevista gravada. Ainda, foi possível acrescentar na entrevista rapidamente o tema da reforma da cúria romana e o aceno que se faz na Evangelium Gaudium de autonomia às conferências episcopais.
Sobre a questão da reforma política, a pergunta que se faz é: "qual reforma política"? Pois há muitos projetos em tramitação no Congresso Nacional. Por que justamente o que favorece o PT é apoiado pela CNBB? Apresentamos a Dom Damasceno os questionamentos e apreensões em relação ao projeto de Reforma Política, de caráter bolivariana, encabeçada pela CNBB e OAB, com mais de 100 entidades de alinhamento ideológico à esquerda, reforma esta que apoia, por exemplo, o financiamento público exclusivo de campanha, proposta esta que favorece especialmente o projeto político do PT, cujo projeto ainda mais por iniciativa popular, pode repetir aqui o que já está acontecendo na Venezuela, conforme as diretrizes do Foro de São Paulo, visando com o fortalecimento do PT, viabilizar a Pátria Grande socialista.
Dom Damasceno nos explicou que sabia ser muito difícil mesmo obter consenso em torno de uma proposta de reforma política, mas que, diante da corrupção e de tantas distorções existentes no atual sistema eleitoral, a reforma política se faz necessária. Disse ainda que quando decidiram apoiar a proposta da Coalizão, ele teve o cuidado de chamar um de seus assessores e pediu para que ele estudasse com acuidade toda a proposta para ver se havia nela algum petismo. Ao que, depois de feita a análise, o assessor lhe assegurou de que não havia nada de petismo na referida proposta de reforma política. Disse ainda que havia pensado muito no nome de um “católico exemplar” para que apresentasse ao Conselho Permanente da CNBB um posicionamento sobre a referida reforma política, e depois de muito pensar em alguém que não estivesse ligado ao PT, chegou enfim ao nome do embaixador Rubens Ricúpero, segundo ele, um católico confiável, beneditino, inclusive maritainista.
Em suma, dos questionamentos feitos, preocupa o fato de que a CNBB não apenas apoia, mas encabeça o mais equivocado projeto de "reforma política", estão comprando gato por lebre, seduzidos, talvez, pelo discurso demagógico de "eleições limpas" ou, até mesmo, enredados pela astúcia do PT, que quer o financiamento público, com o dinheiro do contribuinte, engessando assim o sistema eleitoral brasileiro, para se perpetuar no poder, com as bençãos da CNBB.
Sobre o Sínodo dos Bispos, Dom Damasceno corroborou a tese de que é preciso haver misericórdia para com aqueles que vivem situações difíceis, e que é possível uma pastoral mais acolhedora em casos bem específicos. E ainda em relação à reforma da cúria, já na entrevista gravada, afirmou ser favorável à uma maior autonomia das conferências episcopais, também em casos e situações específicas. Ao final, perguntamos a ele se seria possível encaminhar um pedido de audiência com Bento XVI, que vive no Matter Ecclesia, ao que ele respondeu: "Ele está muito fragilizado e doente. Estando em Roma, conseguimos mais facilmente uma audiência com Francisco".
Entrevista
Para acessar a gravação da entrevista clique aqui
Flávia Camargo – Nós estamos aqui com Dom Damasceno, Arcebispo de Aparecida e também Presidente da CNBB. Desde já agradecemos por nos conceder esta breve entrevista, e queremos iniciar conversando sobre a reforma política. Nós sabemos que a CNBB está liderando um grande movimento no Brasil para que nós possamos apressar essa reforma política que vem por aí, mas também existe dentro da nossa Igreja vários questionamentos sobre o porquê a CNBB resolveu liderar esse movimento. Nós gostaríamos de ouvir o senhor a respeito.
Dom Raymundo Damasceno Assis – Com muito prazer...
Hermes Rodrigues Nery – Gostaria de só acrescentar que esses questionamentos feitos são no sentido de aprofundar a reflexão nessa questão. Há apreensões de que esse projeto de reforma política possa favorecer o Partido dos Trabalhadores e outros partidos, com alinhamento ideológico de esquerda mais definido, de bolivarianismo no País, em curso. Então, todos esses questionamentos merecem uma resposta, e a gente está aqui no sentido de preservar a instituição, de que esta reforma não possa conduzir para realidades que conflitam com a doutrina social da Igreja. Então é um pouco sobre isso que gostaríamos de ouvir a sua posição a respeito.
Dom Raymundo Damasceno Assis – Com muito prazer. A CNBB está sempre atenta aos anseios e aos desejos, às preocupações da sociedade, e percebeu, claro, um desejo geral da sociedade brasileira de uma reforma política. Por isso, a CNBB começou a trabalhar sobre esse tema, e muitas outras entidades procuraram a CNBB, ao saber dessa preocupação para, também, apresentar propostas para essa reforma. Cada entidade tem as suas preferências, as suas propostas, e a CNBB num diálogo com essas entidades (Ver link) chegou a um determinado consenso sobre alguns pontos, que devem de, certo modo, caracterizar a reforma política que setores da sociedade desejam, para que o nosso sistema político funcione,da melhor maneira possível, em favor do bem comum do nosso povo.
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