O justo ama a repreensão
Teodósio tinha um temperamento colérico, sendo-lhe necessário muito esforço para dominar seus primeiros impulsos. Assim, ocorreu que em Antioquia, por questão de cobrança de impostos, a multidão rebelou-se, entregando-se a excessos, destruindo as estátuas do imperador, de sua esposa e filhos. Dando-se conta depois das represálias que poderiam sofrer, muitos dos rebelados procuraram refúgio nas igrejas, enquanto outros fugiram da cidade. Com efeito, Teodósio ficou extremamente irritado, tanto mais que Antioquia era sua cidade preferida. Mas o bispo da cidade, Flaviano, com um grande número de monges que deixaram a soledade, imploraram perdão para a cidade culpada. Teodósio acabou cedendo, e tratou seus habitantes com clemência, o que lhe granjeou a simpatia de todo o Oriente.
Um caso mais grave ocorreu no ano de 390 em Tessalônica, quando turbas amotinadas mataram o representante do imperador. Teodoro, que se encontrava em Milão, enviou uma tropa para matar todos aqueles que pudessem ter tido qualquer parte no ocorrido. Alguns autores dizem que chegou a 7 mil o número de mortos.
Ao ter notícia do fato, Santo Ambrósio saiu de Milão, sua sede patriarcal, a fim de manifestar ao imperador seu desagrado, e dirigiu-lhe uma carta repreendendo-o por sua conduta. E quando depois o imperador desejou entrar na catedral daquela cidade, para assistir aos ofícios divinos, encontrou Santo Ambrósio na porta do templo. Este disse-lhe que a igreja estava fechada para aqueles que haviam vertido sangue inocente. Teodósio confessou sua culpa e submeteu-se com humildade aos atos mais humilhantes de penitência que lhe impôs o santo arcebispo. Ficou encerrado em seu palácio, sem vestir o traje imperial e privado de juntar-se à comunidade cristã, até que, 8 meses depois, Santo Ambrósio, em vista de sua contrição, recebeu-o outra vez na igreja. O imperador pediu então publicamente perdão por sua má conduta. Esse foi um dos mais belos atos de penitência já praticados por algum monarca, comparável ao do Rei-profeta Davi.
O castigador de usurpadores
Quebrando sua palavra, Clemente Máximo assenhorou-se, em 388, de todo o Império do Ocidente, expulsando dele Valentiniano II, que se refugiou em Constantinopla. Teodósio ficou muito na dúvida se deveria declarar guerra ao usurpador. Mandou então consultar São João do Egito, famoso anacoreta que
vivia na Tebaida, e cuja fama de santidade se alastrara pelo Oriente. O Santo assegurou ao imperador que ele triunfaria nessa justa guerra, e com pouco derramamento de sangue7. Apesar da inferioridade numérica, Teodósio enfrentou seu rival. Várias batalhas se sucederam, e a cada uma delas algumas legiões desertavam do campo de Máximo, unindo-se ao verdadeiro imperador. Por fim, Máximo, abandonado, foi despojado de todas suas insígnias reais e levado a Teodósio. Embora em sua magnanimidade o imperador estivesse inclinado a mais uma vez perdoar o recalcitrante, seus soldados o decapitaram.
Teodósio concedeu um indulto geral, e Valentiniano II foi não só reintegrado na posse de seus antigos domínios, mas de todo o Império Romano do Ocidente.
Em tempo pouco anterior, com Juliano, o Apóstata (331-363), o paganismo tinha readquirido muito de seu antigo vigor, o que possibilitou aos senadores pagãos reconstruir o Altar da Vitória, no Senado, onde ofereciam sacrifícios aos deuses. O imperador Graciano o fizera demolir. Quando os pagãos apelaram a Teodósio, pedindo sua reconstrução, este recusou-se terminantemente a permiti-lo, e declarou que sacrifícios pagãos, adivinhos e mágicas seriam punidos como crimes de lesa-majestade.
No ano de 393, Argobasto, antigo tutor franco de Valentiniano II, provocou sua morte e designou para o trono Eugênio, que, apesar de apresentar-se nominalmente como cristão, procurou apoiar-se nos restos de paganismo para manter-se no trono. Restaurou o Altar da Vitória, em Roma, e muitos outros templos pagãos, colocando nos estandartes de suas legiões a figura de Hércules.
Teodósio marchou contra o novo usurpador, mas, adiantando-se com uma parte de sua legião, viu-se rodeado pelos inimigos. Deu-se então um fato considerado por muitos como miraculoso: caiu terrível tempestade, com vento soprando com violência contra as tropas inimigas, que quase as cegou, anulando assim o efeito de suas flechas. Com isso, Teodósio pôde reunir todo seu exército e desferir um golpe fatal nas tropas adversárias. O usurpador foi justiçado e Teodósio tornou-se novamente imperador único do Ocidente e Oriente. Dentro de pouco tempo, porém, ele mesmo dividiu outra vez o Império entre seus dois filhos: Arcádio ficou com o Oriente e Honório com o Ocidente. Tal divisão permaneceria fixa.
Morte assistida por Santo Ambrósio
Em 395 Teodósio encontrava-se em Milão, quando foi atacado de hidropisia, conseqüência dos desgastes e fadigas da última campanha. Tomando conhecimento de seu delicado estado de saúde, Santo Ambrósio acorreu junto a seu leito de morte. O imperador agradeceu-lhe tudo quanto havia feito por ele, e pediu que continuasse a fazer o mesmo por seus filhos, os quais confiou a seus cuidados. O Santo respondeu: "Senhor, espero que Deus lhes dará, como deu a vós, um espírito reto e um coração dócil; recebo com prazer o encargo que me impondes, e vos respondo não só pela instrução desses queridos filhos, como também pela sua eterna salvação"8 . Com tão consoladora promessa, Teodósio entregou a Deus sua alma com os sentimentos da mais profunda piedade, em 17 de janeiro de 395. Seu elogio fúnebre foi proferido pelo próprio Santo Ambrósio.
Fonte: http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=216&mes=abril2002&pag=2
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