Um novo tipo de violência com a mulher aflorou nos últimos anos, e vem ganhando força de modo assustador no Brasil. Essa agressão não é praticada especificamente por homens ou por uma classe social, ela é praticada, infelizmente, por aqueles que se dizem defensores da causa das mulheres. É uma violência de caráter psicológico, da pior espécie imaginável: querem roubar, nada mais, nada menos, do que nossa identidade. Querem dizer para a mulher o que ela deve pensar e dizer - caso contrário, não pode se dizer mulher.
Os praticantes dessa violência alegam que uma mulher enquanto política, professora, advogada, mãe, ou qualquer que seja sua posição, só é verdadeiramente mulher se defender um aglomerado de pautas, como o aborto, as cotas para mulheres, a marcha das vadias, dentre outras. Os agressores querem transformar o sexo feminino numa massa acéfala, que vaga pelos mais diversos nichos repetindo frases decoradas. E o que acontece se você ousar discordar de alguma das pautas que eles defendem? Você é acusada de não ter consciência de gênero, de ser machista, de ser intolerante, de estar "cega pela religião".
O debate entre pessoas que pensam de modo diferentes é saudável, independente do sexo dos debatedores. Mas daí a conceder previamente o status de párias aos que discordam, é um longo caminho sombrio. Presenciei discursos de feministas que alegam que mulheres envolvidas na política só são verdadeiramente representantes das mulheres se defenderem as pautas do movimento feminista. Essas pessoas ignoram completamente o fato de que as mulheres possuem capacidade de pensar, de raciocinar, de estudar, de discordar. Ignoram nosso bem mais precioso: nossa singularidade.
Não somos iguais aos homens, não somos iguais sequer umas às outras, e é nisso que reside nossa maior qualidade, nossa unicidade. Esquecem-se que a beleza de nossa espécie é a diversidade. Ninguém quer ser comum, todos queremos marcar, ter um diferencial... Então por que permitir tamanha violência e opressão umas com as outras, a ponto de tentar usurpar uma característica fundamental e intrínseca - ser mulher - apenas por discordâncias?
A mulher não é burra. Não precisa de uma cartilha ou pauta do que deve defender para ser mulher. Não precisa de Femen, marcha das vadias e ninguém ditando um manual do que é ser mulher. Respeito as tentativas de busca para soluções de problemas cotidianos - ainda que muitas vezes frustradas - de alguns movimentos sociais, mas não votei em nenhum líder desses movimentos e nem assinei nada que lhes desse direito de dizer que se eu não defender o que eles mandam, deixo de ser mulher. E o mesmo vale para os homens, discordar do movimento feminista em certos pontos não os torna machistas.
Esse pensamento de bloco é um mal avassalador que toma o Brasil e gera tanta segregação: se você não concorda com a massa, vai ser arrastado à força por ela. Muitos concordam por não saber discordar, ainda que lhe pareça anti-natural, acabam repetindo o mesmo discurso sem nem saber o que estão dizendo - falam de dados que nunca viram, de pesquisas que nunca leram, de casos que inventaram. É o medo de destoar, por acreditarem que o coletivo é onisciente. Mas ele não é. O coletivo é burro, assim como é qualquer um que se permite abrir mão de pensar e perde sua individualidade no meio da massa, sem sequer saber com o que está concordando.
E para qualquer um que quer defender a mulher, deixo um recado: defenda de verdade, respeite de verdade, inclusive quando ela discordar de você. "A mulher" não é um personagem pré-concebido, cada uma é de um jeito, tem suas crenças, e nem por isso ela é menos mulher, é burra ou deixa de ter consciência.
Beijinhos!
Fonte: Garotas Direta
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