quarta-feira, 17 de agosto de 2016

D. José Alberto Moura: Oposição e Vitória

Muitos acham que se vencem os opositores maquinando e realizando atos, projetos, armadilhas, processos, calúnias, difamações  e até mentiras e outros meios desonestos. Dessa forma, podem constranger, vingar-se e tirar da concorrência os de diferentes idéias, ideais e pleitos. Na política isso acontece com muita freqüência. Julgam, assim, que vencem na marra, porque se apropriam do lugar concorrido por outros. Confundem, mesmo propositalmente, conforme a conveniência, adversários com inimigos. Aliás, a boa concorrência é salutar quando realizada dentro da ética, da lei e do respeito aos outros.

A vitória, no entanto, não é simplesmente a de quem ganhou, lícita ou ilicitamente. É sim de quem contribui para o benefício social, dentro das regras do humanismo e do respeito à dignidade humana, mesmo perdendo uma disputa de cargos e funções. Jesus é o maior vencedor, mesmo na aparente derrota imposta por quem conseguiu matá-lo. Do alto da cruz pediu ao Pai o perdão para seus algozes. Sua ressurreição foi a maior vitória. Seguindo-O, aprendemos a ganhar quando damos vez e até perdoamos a quem nos faz o mal. Ensina-nos a pagar o mal com a misericórdia e a realização do bem a quem nos ofende. O ganho não está na vitória em relação a um pleito disputado. Está mais na grandeza de se esforçar para servir e colaborar com os opositores para eles realizarem o maior benefício à coletividade. Concorrer com meios éticos e métodos cidadãos, mesmo perdendo, vale mais do que a vitória com meios desonestos, ilegais e imorais. Só a pessoa de bom caráter sabe usar os meios lícitos para a disputa.

Na época do profeta Jeremias, ele foi perseguido por dizer e defender a verdade. Colocaram-no em cisterna com barro para ele morrer de fome. Foi salvo porque foi defendido por pessoas de bem (Cf. Jeremias 38,4-10).  Estas foram instrumentos divinos para salvar um inocente das mãos de pessoas vingativas e maldosas.

A carta aos hebreus lembra o quanto Jesus sofreu e suportou a infâmia, enfrentando a oposição por parte dos pecadores, dando o exemplo para a pessoa de bem não se abater nem desanimar. É preciso resistir à tentação da corrupção e do pecado (Cf. Hebreus 12,1-4), não caindo na armadilha de quem usa meios anti-cidadãos para vencer a qualquer custo.

O desafio de Cristo é grande para se conviver e se impor em relação aos que usam de meios imorais para se projetarem. Ele até diz: “Eu vim lançar fogo sobre a terra... vim trazer a divisão” (Lucas 12,49.50). Seu método não é aceito por quem é egoísta e não pratica a justiça, opondo-se a quem promove o bem com honestidade, verdade e respeito aos valores morais. A vitória acontece para quem dá de si em proveito do semelhante, tudo fazendo para favorecer os outros de modo justo, solidário e fraterno. O ditado “rouba, mas faz” não está no dicionário de quem tem grandeza moral e não tira o que é dos outros em vantagem própria ou de grupos privilegiados. Roubar do próximo é roubar de Deus! A pessoa que assim o faz vai ter que prestar contas ao Criador.

Neste ano da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco, precisa-se chamar a atenção dos que participam das eleições municipais, eleitores e elegíveis, para terem misericórdia da sociedade, principalmente dos mais deixados de lado na justiça social, para usarem dos meios éticos no eleger e serem eleitos. Comprar e vender votos é uma grande injustiça para com todos. Vence quem tem grandeza de caráter e contribui, com meios lícitos, para um bom pleito.


D. José Alberto Moura, CSS     Arcebispo Metropolitano de Montes Claros, MG

Fonte: Arquimoc

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