quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Fé e Política. São Luís IX, Rei da França e Confessor

Embora o calendário litúrgico registre considerável número de monarcas santos, talvez nenhum deles tenha realizado de modo tão completo a imagem ideal de Rei cristão quanto São Luís IX. Herdou a coroa com 12 anos, assumindo a regência sua mãe D. Branca de Castela, dama de excepcionais virtudes. Dizia ela ao filho que preferia mil vezes vê-lo morto a vê-lo manchado por um pecado mortal. Fiel aos ensinamentos maternos, São Luís foi sempre homem de muita oração e piedade. Era modelo de governante, de guerreiro e de legislador. Considerava um dos principais deveres do monarca fazer justiça aos súditos, e por isso costumava sentar-se todos os dias à sombra de um carvalho, e ali atendia a todos os queixosos que se apresentassem, qualquer que fosse a condição social deles. Realizou duas Cruzadas para libertar a Terra Santa da opressão maometana, e morreu durante a segunda delas, vitimado pela peste. Tão grande era seu prestígio moral que, tendo caído prisioneiro dos maometanos, estes o tomavam como juiz para resolver pendências que tinham entre si. Mandou construir em Paris a "Sainte Chapelle", um dos mais belos monumentos da arquitetura medieval, para guardar a Coroa de espinhos de Nosso Senhor. Foi casado com Margarida da Provença, da qual teve onze filhos.

Em 1864, o Príncipe Gastão de Orléans, Conde d'Eu, que trazia em suas veias o sangue de seu antepassado São Luís, casou com a Princesa Isabel, filha do Imperador D. Pedro II e herdeira do trono do Brasil. Em conseqüência desse casamento, a Família Imperial do Brasil tem a glória de descender, por linha direta, varonil e legítima, do grande rei cruzado.

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História completa

São Luís, Rei de França


São Luís IX, rei e patrono de França, é uma dessas almas fecundas em santidade sob as mais variadas facetas. A vastidão de seus empreendimentos e a diversidade de aspectos da sua vida inspiraram um famoso escritor francês a afirmar que nele “não se sabe o que mais admirar, se os atos do cavaleiro, do religioso, do patriarca, do rei ou do homem”.

Nascido em pleno século XIII, coube a ele governar um dos principais reinos da Europa em circunstâncias bem diferentes das atuais. Naquele tempo fazia parte dos encargos do Soberano, por exemplo, conduzir o exército para a guerra e lutar pessoalmente à frente de suas tropas. Teria sido incompreensível, como afirma Daniel-Rops, que um rei tão poderoso não tomasse parte no empreendimento das Cruzadas. Entretanto, acrescenta o historiador francês, “ao fazê-lo, devolveu-lhes a dignidade, a pureza de intenção e de comportamento que há tempos havia perdido”.

Ele pode ser considerado, antes de tudo, um homem que queria viver sob o olhar de Deus. Raramente se viu pessoa tão compenetrada de pertencer mais ao Céu que à Terra. Ao ponto de Joinville, seu fiel amigo e biógrafo, resumir assim a sua vida: “Este santo homem amou a Deus de todo o seu coração, e O tomou como modelo em suas obras”.

Rei aos 12 anos de idade
São Luís IX nasceu em 25 de abril de 1214, na cidade de Poissy, próxima de Paris. Era o quarto filho de Luís VIII, cognominado Leão, e de Branca de Castela.

Foi, sobretudo, desta virtuosa princesa que o santo rei recebeu os principais ensinamentos da nossa Religião: o amor a Deus e à Santíssima Virgem, o apreço pela virtude e a aversão ao mal. Quando ela tomou em seus braços o menino logo após seu Batismo, osculou-o no peito, dizendo: “Filhinho, que agora és um templo do Espírito Santo, conserva-o sempre imaculado e jamais o manches por um pecado”. Esta boa mãe não hesitava em repetir-lhe, com muita sinceridade, que preferia vê-lo morto a sabê-lo manchado por um pecado mortal.

Corriam serenamente os anos da educação de São Luís, quando em 8 de novembro de 1226, voltando de uma campanha vitoriosa contra os cátaros do sul da França, Luís VIII faleceu, aos 40 anos de idade. Além da grande dor pela perda do esposo e pai, esse acontecimento acarretava sérias consequências, pois o herdeiro do trono contava apenas 12 anos!

Entretanto, o rei havia manifestado aos nobres cavaleiros, reunidos em torno de seu leito mortuário, suas últimas recomendações: “Que Luís, meu filho, seja prontamente conduzido a Reims, para lá ser coroado. Que ele esteja sob os cuidados e a tutela de Branca, minha querida esposa, e que o Condestável Montmorency seja para ela um bom conselheiro”. A derradeira ordem de Luís VIII não tardou em ser cumprida: em 30 de novembro de 1226, São Luís foi coroado rei de França.Revista Arautos do Evangelho - Revista Católica - Baixar edição gratuita - A Voz dos Papas - Comentários do Papa - Intenções do Papa

O governo da família e do reino
Branca de Castela assumiu a regência e enfrentou, com energia e sagacidade, as perigosas ameaças da Inglaterra, as orgulhosas pretensões da nobreza feudal e uma nova revolta dos hereges albigenses.

Finalmente, em 1234, aos 20 anos de idade, São Luís assumiu o governo do Reino Cristianíssimo. Todavia, manteve a mãe a seu lado, numa posição de confiança e poder, continuando a mostrar-se filho obediente e respeitoso. Foi ela quem concertou o casamento do jovem rei com Margarida de Provença, celebrado em 27 de maio de 1234. Desta união nasceram-lhes 11 filhos, aos quais o próprio São Luís encarregava-se de dar cuidadosa e esmerada educação.

Instruía-os, sobretudo, à noite, depois de recitar as Completas. Fazia-os entrar em seu quarto e os motivava a uma vida virtuosa, contando-lhes histórias de santos, bons reis e imperadores, e recomendando-lhes haurir deles os exemplos de virtudes.

Ocupava-se de modo especial em transmitir aos filhos o hábito da oração, a assistência à Santa Missa, a recitação das Horas Litúrgicas e a devoção a Nossa Senhora; exortava-os a jamais se descuidar da vida espiritual e a desprezar os prazeres e as vaidades mundanas.

Um testemunho desses santos ensinamentos ficou registrado para a História na Carta Testamentária deixada a seu filho Filipe: “Começo por querer ensinar-te a amar ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todas as forças; pois sem isto não há salvação. Filho, deves evitar tudo quanto sabes desagradar a Deus, quer dizer, todo pecado mortal, de tal forma que prefiras ser atormentado por toda sorte de martírios a cometer um pecado mortal”.

Esse mesmo espírito de Fé marcou o seu longo reinado, durante o qual a bênção de Deus acompanhou-o visivelmente, proporcionando o bem-estar público, a paz e a prosperidade. Apoiou as corporações de ofício e regulou os costumes, dando estrutura e estabilidade às organizações da plebe. Foi um alentador de todas as formas de autonomia, mas soube ao mesmo tempo ser, sem despotismo, o centro enérgico e vivo do reino.

Justiça sem demoras nem burocracias
São Luís tornou-se célebre por seu proverbial espírito de justiça e equidade. Para coibir as transgressões e excessos dos juízes, oficiais e outros cargos públicos, nomeava juízes extraordinários a fim de examinar sua conduta e rever seus julgamentos. Premiava os que exerciam com honra e responsabilidade seus encargos. E aos que agiam mal, aplicava exemplar punição.

E, coisa espantosa para os homens dos nossos dias, ele mesmo julgava, sem demoras nem burocracias, os pleitos que eram levados ao seu conhecimento sob o famoso carvalho de Vincennes. Ouçamos a Joinville, em sua linguagem singela e franca, nos traçar um esboço dessas sessões:

“Acontecia com frequência de, após a Missa, ele ir sentar-se no bosque de Vincennes, debaixo de um carvalho, e nos fazer sentar ao seu redor. E todos quantos tinham alguma questão a resolver vinham falar-lhe, sem empecilhos de guardas nem nada do gênero. Ele então lhes perguntava: ‘Alguém quer apresentar uma queixa?’. Levantavam-se logo os que tinham reclamações a fazer. Dizia-lhes ele: ‘Calai-vos todos, sereis atendidos um após o outro’. Em seguida, designava Monseigneur Perron de Fonteinnes e Monseigneur Geffroy de Villete e dizia a um deles: ‘Resolva-me este litígio’. E quando percebia alguma coisa a corrigir nas palavras daqueles que falavam em seu nome, ou em nome de alguma das partes, ele mesmo fazia a retificação”. Perron de Fonteinnes e Geffroy de Villete eram juristas de reconhecida competência.

Justiça e misericórdia alternavam-se em suas decisões. O próprio irmão de São Luís, Carlos d’Anjou, que mandara prender injustamente um cavaleiro, foi intimado a comparecer em Vincennes e ali se apresentou acompanhado por seus melhores especialistas. Mas o cavaleiro tinha como advogados, por ordem do rei, os mais ilustres conselheiros jurídicos da Coroa, e obteve a justa reparação.Revista Arautos do Evangelho - Revista Católica - Baixar edição gratuita - Histórias para crianças - História de Fé


Vida privada de religioso
Detentor dos mais altos títulos de nobreza, esse rei de França preferia assinar simplesmente “Luís de Poissy”, pois nessa cidade recebera o Batismo e considerava sua maior dignidade o ter sido batizado. Em meio a todas as suas obrigações de soberano, recitava todos os dias as Horas Litúrgicas e lia com assiduidade a Sagrada Escritura e os Padres da Igreja.

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