Por Rui Ramos
Será possível manter os padrões actuais de liberdade, tolerância e pluralismo numa sociedade sacudida por matanças regulares de cidadãos? Provavelmente, não. Este é o problema maior da Europa.
Sempre que há um ataque jihadista, a primeira coisa que se começa a discutir nos estúdios da televisão não é o Estado Islâmico, mas Marine Le Pen e Donald Trump. Como se o problema fosse o aproveitamento demagógico dos atentados, e não os atentados em si, a sua frequência e a sua violência. Como se bastasse ralhar a Le Pen ou a Trump, para limitar as reverberações políticas e sociais do terrorismo. O esforço para desviar a conversa do tema politicamente incorrecto da campanha jihadista contra o Ocidente é notável, como se viu no caso de Orlando, logo reduzido à polémica sobre o acesso comercial a armas. A França não é a América, mas nem por isso os jihadistas deixaram de matar 130 pessoas em Paris e agora cerca de 80 em Nice. Em Nice, nem foram precisas armas, chegou um camião.
Não, o problema é este: a Europa alberga hoje grandes comunidades imigrantes em crescimento descontrolado, e onde demasiada gente rejeita os valores ocidentais. Alguns sentem-se inspirados ou foram mesmo organizados para atacar a sociedade que os acolheu. Não são todos, são até poucos, mas estão a conseguir importar para a Europa o sectarismo e o terrorismo que há décadas se tornaram endémicos no Médio Oriente e no norte de África. Não é sensato continuar a invocar o “racismo” e a “islamofobia” para impedir um debate sobre o jihadismo. Porque o racismo e a islamofobia hão de alastrar quanto mais os regimes europeus se mostrarem incapazes de enfrentar a insegurança da jihad. E também não será sensato continuar a fingir que nos podemos esquecer do Médio Oriente e deixar os árabes entregues à sua sorte: o Iraque provou que uma invasão para derrubar um tirano não é, só por si, uma solução; mas a Síria provou que não fazer nada, e deixar uma guerra civil continuar o seu curso, também não. Não há soluções fáceis: mas não querer ver o problema não é uma solução.
Haverá um momento em que já não chegarão os lugares comuns, a começar pelo mais cansado de todos: o apelo para não fazermos o “jogo dos terroristas”. Haverá um momento em que as vigílias e demais cerimónias do “Je suis” consolarão cada vez menos gente. Haverá um momento em que já quase ninguém terá paciência para mais um exercício de auto-flagelação a propósito da guerra do Iraque de 2003 ou do acolhimento dos imigrantes. Nesse momento, a vida nas sociedades ocidentais, tal como nos habituámos a ela, estará comprometida.
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Fonte: Observador
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