sexta-feira, 1 de julho de 2016

A União Européia abandonada pela Inglaterra

O tema em epígrafe, tão noticiado no dia de hoje — e tão chorado copiosamente pelas esquerdas do mundo inteiro —, ganha maior dimensão se considerado na perspectiva da análise feita por Plinio Corrêa de Oliveira no artigo A Federação Europeia à luz da doutrina católica, publicado na revista Catolicismo em fevereiro de 1952. Alguns trechos são transcritos abaixo entre aspas.

Planejava-se, já naqueles idos, a formação de uma Federação Europeia, destinada a ser uma espécie de Estados Unidos da Europa ou algo nos moldes da atual União Europeia (UE). “Um acontecimento imenso” — comentava então o Prof. Plinio —, pois “são nações que desaparecem depois de terem enchido o mundo e a História com a irradiação de sua glória”.

         A retirada da Inglaterra da UE mediante o recente plebiscito popular — que contou com 51,9% contra a permanência na UE e 48,1% a favor — pode ter sido o meio escolhido pelo país para ver-se livre das tirânicas imposições da UE, evitando assim perder suas características, suas tão belas tradições e a enorme riqueza que suas artes e seus valores peculiares encerram.

         No mencionado artigo, o autor prognosticava que a constituição de um só bloco de nações europeias poderia padecer subjugado por ferrenhas mãos de burocratas que ditariam como cada país deveria ou não proceder. Vejamos.

        “Uma Federação que procura passar a esponja sobre tantos séculos de História, evidentemente não pode ser construída só por um grupo de políticos e homens de gabinete, mediante a assinatura de um tratado. […]

         “Assim, pois, resumindo nossa impressão, tudo indica que, exceto uma guerra, nenhum fato natural deterá a constituição da Federação. Tanto mais quanto seus dirigentes já declararam oficialmente que saberão andar passo a passo, montando aos poucos as peças do novo organismo, e começando judiciosamente pelos alicerces”.

Plinio Corrêa de Oliveira, no mesmo texto, trata do perigo que representaria uma Federação Europeia como um plano marxista para a implantação de uma República Universal, cujo governo visaria eliminar as desigualdades justas e harmônicas dos povos, assim como a beleza que há nas sadias características e costumes próprios da alma e da cultura de cada região. Para se constituir tal República Universal, seus dirigentes teriam também o objetivo de fundir as nações num amálgama amorfo e igualitário e suprimir os governos próprios de cada país, bem como suas fronteiras.
Por isso, certamente, a maioria dos britânicos, receando perder algo de sua soberania, já deram “tchau” para a UE.






         “Antes de tudo devemos fazer sentir que a Igreja é contrária ao desaparecimento de tantas nações para constituir um só todo. Cada nação pode e deve manter-se, dentro de uma estrutura supranacional, viva e definida, com seus limites, seu território, seu governo, sua língua, seus costumes, sua lei, sua índole própria. […]

“A Alemanha é uma nação, a França outra, a Itália outra. Se alguém as quisesse fundir como quem joga num cadinho joias de finíssimo valor, para as transformar num maciço lingote de ouro, inexpressivo, anguloso, vulgar, certamente não agiria segundo as vistas de Deus, que criou uma ordem natural na qual a nação é uma realidade indestrutível.

“Assim, pois, se a Federação Europeia tomar este caminho, será mais um mal, do que um bem. Deve ela ser a protetora das independências nacionais e não a hidra devoradora das nações.

“As autoridades federais devem existir para suprir a ação dos governos nacionais em certos assuntos de interesse supranacional; nunca para os eliminar. Sua atuação nunca poderá ter em vista a supressão das características nacionais de alma e cultura, mas antes, na medida do possível, seu robustecimento. Precisamente como no Sacro Império Romano Alemão, em que cada nação podia desenvolver-se, dentro da órbita dos interesses legítimos e comuns da Cristandade, segundo a sua índole peculiar, sua capacidade, suas condições ambientes etc.

“De outro lado, a estruturação econômica não deve chegar a um planejamento tal, que implique numa super-socialisação. Se o socialismo é um mal, sua transposição para o plano superestatal não poderá deixar de ser um mal ainda maior.

“No Sacro Império — todo penetrado de feudalismo, de regionalismo sadio, de autonomismo municipal, do autonomismo grupal das corporações, Universidades etc. — tal perigo só começou a se infiltrar quando apareceu, com os legistas, a semente do socialismo hodierno. Mas os legistas foram sempre uma excrescência na Cristandade, e sua influência coincidiu precisamente com o declínio do verdadeiro ideal cristão do Estado.

“Por fim, permita-se-nos uma afirmação bem franca. Nenhuma sociedade, seja ela doméstica, profissional, recreativa, seja ela Estado, Federação de Estados, ou Império mundial pode produzir frutos estáveis e duráveis se ignorar oficialmente o Homem Deus, a Redenção, o Evangelho, a Lei de Deus, a Santa Igreja, e o Papado. Ocasionalmente, podem alguns de seus frutos ser bons. Mas se forem bons não serão duráveis e, se forem maus, quanto mais duráveis tanto mais nocivos.

“Se a Federação Europeia se colocasse à sombra da Igreja, fosse inspirada, animada, vivificada por Ela, o que não se poderia esperar? Mas, ignorando a Igreja como Corpo Místico de Cristo, o que esperar dela?

“Sim, o que esperar dela? Alguns frutos bons, que convém notar e proteger de todos os modos, sem dúvida. Mas como é fundado esperar também outros frutos! E se estes frutos forem amargos, quanto se pode temer que nos aproximemos assim da República Universal, cuja realização a maçonaria há tantos séculos prepara?”.

Fonte: ABIM

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